BEM-VINDOS


SEU COMENTÁRIO FAZ A DIFERENÇA.


25 de abril de 2013

Em tempos de internet e livro digital, bibliotecas ainda pulsam em Porto Alegre



Número crescente de pessoas prefere pegar livros emprestados na Capital

Itamar Meloitamar.melo@zerohora.com.br

Quando a Biblioteca Municipal Josué Guimarães abre as portas, às 9h, é costume já haver usuários à espera do lado de fora, ávidos por ler os jornais do dia ou ser os primeiros a levar para casa os livros recém-cadastrados.
No serviço da prefeitura de Porto Alegre, a procura cresce ano após ano. Em 2012, foram 18 mil empréstimos, uma média de 50 por dia. A mesma relevância é revelada por outras bibliotecas públicas da Capital e do Interior. Na rede do Serviço Social do Comércio (Sesc/RS) — composta por 14 unidades fixas e três móveis —, o número de atendimentos ultrapassou a marca espantosa de 575 mil em 2012. Para este ano, a expectativa é alcançar os 700 mil.
Essa vitalidade das bibliotecas públicas é demonstrada em meio a um cenário que parece ter sido projetado nos mínimos detalhes para solapar sua sobrevivência. Nos últimos anos, a internet colocou dentro do celular dicionários, enciclopédias, periódicos e um mundo infinito de informações. Cada vez mais, bastam uns poucos cliques no tablet ou no computador para baixar o ebook desejado, muitas vezes de graça. Para completar, livros de bolso baratos invadiram bancas de revistas e livrarias, tornando-se acessíveis a uma população que viu sua renda aumentar.
Tudo isso somado, seria de esperar que as bibliotecas estivessem quase vazias, transformadas em templos de uma religião sem crentes. Mas a verdade é que elas seguem desempenhando um papel fundamental. 
Uma manifestação dessa força será fornecida na terça-feira, Dia do Livro, quando o Conselho Estadual de Cultura e outras entidades promovem um abraço simbólico ao prédio da Biblioteca Pública do Estado, no centro da Capital, para reivindicar uma nova sede para instituição — ideia que ganhou corpo desde que foi defendida pelo escritor Armindo Trevisan em um artigo publicado no fim do mês passado em ZH.
Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada no ano passado, 25% da população visitou uma biblioteca em 2011 — o equivalente a 50 milhões de pessoas. Os usuários frequentes são 7%. 
É bastante gente, ainda mais para um país onde faltam bibliotecas e onde as que existem geralmente estão nas áreas centrais das cidades — o governo do Estado, por exemplo, tem apenas seis bibliotecas públicas, todas em Porto Alegre e três delas dentro do mesmo prédio, a Casa de Cultura Mario Quintana.
Uma parte considerável dos usuários que estão mantendo as bibliotecas em efervescência são os vestibulandos — as direções sabem que é preciso dispor das leituras obrigatórias em quantidade. Também há espaço cativo para gente que procura os recintos para se isolar (com o fim de estudar para concursos) ou para se reunir (com a ideia de fazer trabalhos escolares). 
E há ainda os personagens que transformam a biblioteca em seu segundo lar. Na Erico Verissimo, de Porto Alegre, um homem comparece todas os finais de tarde, pega um livro e começa a lê-lo de onde parou na véspera. Repete o ritual todos os dias, até alcançar a última página. Então escolhe outro volume. Jamais leva um livro para casa. Na Josué Guimarães, há outra figura mítica: um sócio que pegou emprestado nos últimos três anos 1.340 livros — média superior a um por dia. É o mais compulsivo de um mar de leitores compulsivos:
— O aposentado não está mais ficando em casa. Ele pega cinco livros, que é o limite, e uma semana depois, antes do prazo, já está de volta para devolver e levar outros títulos. Há também gente que vem para estudar. Não é tanto pelo silêncio, mas para manter uma rotina. Nos sábados, chegam famílias de outras cidades, como Canoas ou Viamão — conta a bibliotecária Jacqueline Mative, da Josué Guimarães.

Fonte: Zero Hora

24 de janeiro de 2013

Escolas sem biblioteca


O Brasil precisa construir 130 mil bibliotecas até 2020 para cumprir a Lei 12.244, que estabelece a existência de um acervo de pelo menos um livro por aluno em cada instituição de ensino do País, tanto de redes públicas como privadas. Hoje, na rede pública, apenas 27,5% das escolas têm biblioteca.
Para equipar todas as 113.269 escolas públicas sem biblioteca, seria necessária a construção de 34 unidades por dia, segundo um levantamento realizado pelo movimento Todos Pela Educação com base no Censo Escolar 2011. O estudo também faz uma comparação com números do Censo 2008 e mostra que, mesmo as escolas construídas nos três anos seguintes (foram 7.284 novas unidades) não contemplam o espaço: apenas 19,4% dessas novas instituições têm biblioteca.
Os Estados mais carentes são os das Regiões Norte e Nordeste, que tradicionalmente têm infraestrutura escolar precária, com escolas que chegam a funcionar em construções sem energia elétrica e saneamento básico. Na rede municipal do Maranhão, por exemplo, só 6% das escolas têm biblioteca.
O que destoa da lista, no entanto, é o aparecimento do Estado de São Paulo com um dos piores resultados do ranking, com 85% das unidades de sua rede pública (escolas estaduais e municipais) sem biblioteca. São 15.084 unidades sem o equipamento.
Um enorme prejuízo, se considerado os resultados da edição 2012 da pesquisa Retratos do Brasil, que mostrou que, entre os 5 e 17 anos, as bibliotecas escolares estão à frente de qualquer outra forma de acesso ao livro (64%).
A justificativa mais comum para desrespeitar a lei é a falta de espaço físico, já que muitas das novas escolas são construídas em terrenos apertados. No caso das unidades antigas, muitas deram outro uso para a biblioteca: boa parte virou sala de aula para suprir a demanda por vagas e, em outras, a área foi, aos poucos, se tornando um depósito, com computadores empilhados e livros empacotados.
"Isso mostra que só a legislação não é suficiente, porque tem lei que realmente não pega", afirma Priscila Cruz, diretora do Todos pela Educação.
Equívoco. Quando se analisa o déficit por nível de ensino, vê-se, ainda, que as instituições de ensino infantil são as mais prejudicadas: enquanto 82% das escolas de ensino profissional e 52% das de ensino médio construídas após 2008 possuem biblioteca, apenas 10% das de ensino infantil têm o espaço.
Uma opção que é um contrassenso, argumentam os educadores, já que é na faixa etária dos 5 anos que a criança está descobrindo a língua escrita e tem de ser estimulada à descoberta e ao gosto pela leitura. No ensino médio, o estudante já teria acesso a outros ambientes de leitura.
A mudança, afirma ela, depende de uma tomada de consciência pedagógica, que entenda a importância da biblioteca na aprendizagem coletiva e individual. "O descaso é tanto que, em alguns casos, a área se torna o local de castigo. A criança conversou na aula, é mandada para lá. Ler vira punição", diz Priscila.
Para que a biblioteca escolar cumpra seu papel pedagógico, deve-se levar em conta do espaço físico à qualificação dos funcionários, passando pela qualidade do acervo e pelas atividades agendadas no local. O tamanho mínimo é de 50 m², o acervo deve contemplar a diversidade de discursos, é preciso que haja computadores conectados à internet e bibliotecário responsável.
Desinformação. Além do desconhecimento dos parâmetros, falta informação sobre fontes de financiamento. "Muitos municípios desconhecem os recursos financeiros disponíveis para a implantação do equipamento", diz Christine Fontelles, diretora de educação e cultura do Instituto Ecofuturo. A organização lidera a campanha Eu Quero Minha Biblioteca, que busca mobilizar a sociedade civil e os gestores públicos para cumprirem a lei.
No site, é possível encontrar informações sobre as ações federais voltadas ao assunto, como o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e o Plano de Ações Articuladas (PAR).
No município maranhense de Açailândia, a 560 km de São Luís, a biblioteca da escola Fernando Rodrigues de Souza nasceu há dois anos onde ficava o refeitório. Com acervo de 2.500 livros, são cerca de 300 empréstimos diários e 200 novos exemplares por ano enviados pelo Ministério da Educação (MEC). "Ainda é pouco para o tamanho da demanda, mas é um começo", diz Zeila Villar, a bibliotecária.